6 de janeiro de 2013

MULHERES e poder no Alto Sertão da Bahia A escrita epistolar de Celsina Teixeira Ladeia (1901 a 1927)


Eis minha atual leitura:



Apesar de alguns livros literários me chamando de forma sedutora, iniciei o ano com algo mais voltado para pesquisa e teoria. Este é o livro lançado recentemente por meu orientado:



Já tenho algumas páginas lidas e degustadas. É fascinante como a mesma História que praticamente exclui a mulher de uma participação ativa na sociedade, repensa sua forma de tratar os vários segmentos e sujeitos sociais, e os coloca de volta nas novas-velhas páginas. Via Celsina, conheço um sujeito forte, de ação e pulso firme, uma figura do sertão brasileiro, que sem alarde, nas ações cotidianas (familiares, sociais, filantrópicas, econômicas, entre outras) destaca-se silenciosamente. O sertão é seu espaço de poder e luta contra as adversidades da vida. È preciso frisar que Celsina não assemelha-se a Maria Bonita, é uma moça de família de posses que obedecendo ao pai, visando o interesse político deste, casa-se com o rapaz que ele determina, tempos depois fica viúva...e toma a rédeas da vida.
É pelas cartas de Celsina que Marcos Profeta evidência o fazer feminino, clarifica a participação da mulher para aqueles que pouco enxergam. Sutilmente descortina um sujeito-fio de uma rede de uma complexa tessitura invisibilizada que aos poucos e graças ao esforço de pesquisadores como o referido autor, estão descobrindo o que,  por tanto tempo, a História oficial, fazia questão de encobrir.
A mulher luta e atua de diversas formas: com arma ou caneta nas mãos, cozinhando ou rasgando sutiãs, nos afazeres domésticos ou no trabalho fora de casa, gritando ou em silêncio. Dentro dessa diversidade que diverge e converge para o mesmo ponto, Celsina, mostra-se uma grande mulher sertaneja e propicia, a esta leitora, ainda mais paixão pelo universo das mulheres sertanejas.
Rumo á monografia...rsrsr
 

"Este livro aborda a correspondência epistolar e as sociabilidades de Celsina Teixeira, uma fazendeira do Alto Sertão da Bahia, entre 1901 e 1927. Traz uma contribuição fundamental para os estudos das relações de gênero no Brasil, ao elaborar com sutileza o seu espaço de autonomia, ocultado pelo discurso ideológico dos papéis prescritos para as mulheres de elite. Marcos Profeta demonstra uma extraordinária vocação para a interpretação histórica ao nos revelar os parâmetros nos quais Celsina Teixeira se enquadrava e através de que silêncios e ocultamentos exercia sua vontade, sua energia de administradora dos negócios e de mulher atuante na política local. É interessante como, justamente através da palavra escrita, o autor faça com tanto sucesso a crítica dos valores culturais que atribuíam às mulheres espaços pouco privilegiados na sociedade.
De leitura muito agradável, este livro revela também as qualidades intelectuais de um pesquisador feminista, o que por si só já surpreende, mas não tanto quanto nos causa impacto o seu modo peculiar de escrever aprofundando as contradições das cartas, reveladoras da vida de grandes desafios econômicos das famílias de elite do sertão, da enorme pressão representada pelas secas e pelo clima inóspito e imprevisível da região, a exigir de uma mentalidade tradicional e religiosa imensa capacidade de improviso.
O autor, a partir de uma escrita apurada e ao mesmo tempo extremamente sensível para com os indícios mais tênues e às frases as mais reveladoras, procede a um exercício de interpretação arguto e ardiloso. Concentra-se em minúcias dos textos das cartas, demora-se em pequenas frases, referências sutis. Inspirado pela epistemologia feminista e pelos textos inovadores de Michel de Certeau, extrai das correspondências os indícios das tensões e dos não ditos que perfazem o espaço da autonomia do indivíduo, em meio às exigências do quotidiano e das amarras do grupo familiar.
Profa. Dra. Maria Odila Leite da Silva Dias

Sobre o autor: Marcos Profeta Ribeiro nasceu em Pindamonhangaba (SP), em 1973. Formou-se em História na Universidade de São Paulo em 1998. Defendeu seu mestrado, que originou esse livro, em 2009 pela PUC-SP, sob orientação da Profª Drª Maria Odila Leite da Silva Dias. Professor assistente do curso de História do Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado da Bahia, campus VI – Caetité, onde atua na área de Teoria da História e Pesquisa Histórica. Dedica-se às pesquisas sobre relações de gênero no Alto Sertão da Bahia. Integra a coordenação do Arquivo Público Municipal de Caetité e faz parte do Grupo de Pesquisa Cultura, Sociedade e Linguagens – CNPq.
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5 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

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Marcos Profeta disse...

Que bom que gostaram do livro, fiquei bastante contente com o breve comentário. Ao estudar as cartas de Celsina Teixeira pude entrever as ações de diversas mulheres no alto sertão baiano. São trajetórias de vida super instigantes.

Paula: pesponteando disse...

Muito feliz com sua presença por aqui. O livro permite uma viagem no tempo, apresenta a força da mulher sertaneja e deixa em nós a curiosidade em ler as cartas. Volte sempre!