31 de dezembro de 2011

Passos

Ando sem passos pelo quintal,
Num passeio calado
Pelo silêncio velado.
A terra fresca clama meus passos,
Meus pés descalços,
Sonha sentir meu compasso.
A terra virgem deseja meus pés,
Cura de suas feridas.

Criminosos pés meus,
Por onde andastes antes de mim?
Que terras maculastes, oh infames?
Fostes herói ou bandido, não sei...
Partiu e me abandonastes aqui
Navegante indócil,
Deixando imóvel este corpo
No insondável e misterioso silêncio
Dos becos, ruas e calçadas
Seguindo de trem para Auschwitz.

No quintal me debruço
Sem empecilhos ao sabor voluptuoso
Dos passos.
A brisa sussurra serpentinas carnavalescas,
Nelas se perdem meu pensamento.
Flores fazendo algazarra
Na invisibilidade do passeio sem pés.
Nas cores do avivamento
Apelos agudos de júbilo
Numa resistência obstinada
Em busca do riso perdido
No labirinto primaveril deste quintal.



PAULA IVONY LARANJEIRA
Também disponível em Palavra Fiandeira n 66 
Que possamos dar longos passos em 2012. Passos em direção ao amor, à paz, à felicidade, à prosperidade, à saúde e á leitura... E que nos encontremos mais vezes neste ano que chega. bjs a todos...FELIZ 2012!

24 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL



Senhor, nesta Noite Santa,
depositamos diante de Tua manjedoura
todos os sonhos,

todas as lágrimas e esperanças
contidos em nossos corações.

Pedimos por aqueles que choram
sem ter quem lhes enxugue uma lágrima.

Por aqueles que gemem
sem ter quem escute seu clamor.

Suplicamos por aqueles que Te buscam
sem saber ao certo onde Te encontrar.

Para tantos que gritam paz,
quando nada mais podem gritar.

Abençoa, Jesus-Menino,
cada pessoa do planeta Terra,
colocando em seu coração um pouco
da luz eterna
que vieste acender
na noite escura de nossa fé.
Fica conosco, Senhor!

Assim seja! 
FELIZ NATAL A TODOS OS AMIGOS E LEITORES...

Fonte: Imagem: Google.com / texto: Aqui

5 de dezembro de 2011

Carta ao Papai Noel

Meus queridos amigos, o Marciano Vasques mais uma vez me convidou para participar do seu blog-revista Palavra Fiandeira. Além dessa edição especial de Natal, ele também nos brinda com edição revista online em sua 4ª edição que também aborda a temática natalina AQUI. Os convido a conhecer as duas publicações e se deliciar com os diversos textos. Abaixo segue apenas o meu texto, uma cartinha para Papai Noel.

Carta ao Papai Noel



Querido Papai Noel,



Meu Nome é Maria, tenho mais de dez anos, mas nem pergunte quantos, porque seria uma indelicadeza contra a alma feminina. O que importa, é que tenho sido uma boa menina, tirei boas notas na escola e na faculdade; ainda obedeço a mamãe e ao papai e eles também me obedecem direitinho, afinal já estão velhinhos e precisam dos meus cuidados; tenho rezando antes de dormir, mas ao me levantar, esqueço; não falo palavrões; tenho sido uma irmã, tia, cunhada e amiga bem boazinha também. Então, acho que posso pedir algo que seja tão precioso quanto minhas ações e atitudes.

Está preparado? Tem certeza? Olha, não vai ser unha de fome e recusar-se a atender este pedido, pois tem uma árvore enorme aqui, só esperando o presente. Uma árvore maior do que aquela que fica na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro e muito mais bonita do que aquela do Central Park, em Nova Iorque. Já pensou como seria frustrante não receber seu presente?!! Sei que muitas pessoas não recebem. Saiba, porém, que não sou qualquer pessoa, sou a Maria. Só para lembrar, não sou a Maria vai com as outras. Prefiro ir sozinha com um livro na mão.

Pois bem. Vamos logo ao assunto desta missiva. Sabe... o leitor? Imagino que já tenha ouvido falar dele. Aquele sujeito que nasce a revelia do escritor, mas sem o qual não faria sentido escrever. Aquele sujeito chatinho que passa horas com um livro na mão, lendo, lendo, lendo e transformando tudo em um mundo novo, em novas ideias. Penso o leitor como um autor que escreve em cima das palavras do “escrevedor”, “lembrador” e “imaginador” das histórias, dando a estas, significado. Uns escrevem de forma mais próxima do real, outros bem longe. Contudo, o importante é que escrevem. Além disso, tem leitores-escritores de todos os tipos: os que gostam de poesia, contos, crônicas, novelas, romances; os que gostam do realismo nas histórias, outros preferem o mundo fantástico inserido nas tramas do texto; há leitores que se dividem em tantas categorias que fica difícil elencá-los num molde qualquer. São uns fofos, não é mesmo?!!

Ah, os leitores...seria tão bom tê-los por aqui. Então resolvi pedir este ano a você, bom velhinho, que presenteie o mundo com muitos leitores, pois escritores e livros já existem muitos. Contudo, leitores, destes que leem e entendem, leem e comentam, leem e divulgam, leem pela mesma necessidade que se alimentam, ah, Papai Noel, estes já são bem poucos.
E se não for pedir demais, que eu seja uma dessas leitoras que nascerão neste natal, destas que ganharão livros ao invés de brinquedos, jogos eletrônicos, celulares, e tantas outras coisas que modernamente costuma-se ganhar. Tudo bem, não precisam ser somente livros, seria pedir demais. Entretanto, pelo menos um livro, só unzinho para que se tenha início uma bela estante cheia de livros lidos, livros marcados, com comentários ao lado, com frases grifadas, talvez até com a marquinha de uma lágrima caída, coisas de leitoras bobas, como eu, que costumam chorar durante uma boa leitura...Bem, Papai Noel. É isso! Olhe lá, muitos leitores, tá!

Ah, já ia me esquecendo: caso não encontre chaminés e lareiras pode entrar pela porta, elas estão sempre abertas à sua espera, mas também pode mandar pelos correios ou como prefere alguns, no caso de e-books, pode enviar pelo e-mail mesmo, pois sempre há um leitor para fazer o download.

Aguardo ansiosa, como uma criança, que ainda sou, a sua resposta na noite de Natal.

Beijos na sua bochecha rosada e abraços apertados, meu querido bom velhinho!


Com toda a esperança, Maria... aquela que não vai com as outras.





Convites/ Lançamentos

Meus queridos amigos, segue abaixo alguns convites para lançamentos literários. Para quem puder e quiser...Agende-se!

SALVADOR-BA


 PORTO ALEGRE-RS


RIO DE JANEIRO-RJ


 

 Bjão a todos...

19 de novembro de 2011

VÁRIOS DESEJOS DE UM RIO



*Esmeralda Ribeiro*

Eu não queria ter em mim
águas incertas
laços de tormentas
mares de castelos movediços
abismo obediente
nem saber que atrás de mim
há comportas com ninhos de serpentes.

Eu queria entender
esta cantiga de criança:
“A menina pretinha será rainha, olê, seus cavaleiros!
Mas está presa no castelo, olê, olê, olá!
E por que ela não foge?, olê, seus cavaleiros!
Mas com quem está a chave?, olê, olê, olá!”

Eu não queria ser levada
pela correnteza de rosa
rosa perfume sem porto
desse meu Rio interno da infância submersa.


Eu não queria ter em mim
mar vermelho, alquimia do tempo
corredeira freqüente
sina de fêmea
desejo no fogo da quimera
nem pérola d’olho em lágrimas.
Eu queria aprender o beabá
navegar no mar do conhecimento
meu corpo desvendado
mergulhar no meu rio
mas... aprendi a amar

não queria
proibidas lições de amor,
uma barriga lunágua
nem ficar ancorada em duvidas:
em meu ventre há uma boneca quebrada?
Como vou à escola?

Eu não queria ter
rosto à margem da multidão
a dor mergulhada no meu íntimo.

Eu queria ouvir
a cantiga cantada pela de menina de rua:
“A moça preta será rainha, olê, seus cavalheiros!
Mas está presa no castelo, olê, olê, olá!
E por que ela não foge? Olê, seus cavaleiros!
Mas com quem está a chave?olê, olé, olá!

Mas...
remo o choro em coro
correntezas incertas
balanço das águas desbastadas.

Não queria cair nas areias movediças do Touro,
Touro é valente.
Não queria ser levada
Pela correnteza de rosa
Rosa dilúvio sem âncoras
Desse meu rio adolescente subterrâneo.


Eu queria
onda silenciosas dentro do meu rio
aqueles que batem e voltam
levando minhas barquinhas de sonhos.


Não queria
pensamentos ancorados em duvidas:
não tenho mais bonecas quebradas?
O amor que era vidro se quebrou?
Eu queria
depois de aplacar o vendaval,
depois de matar as travestidas baleias,
descansar no leito da noite.

Eu queria
mergulhar em meus sonhos para entender
a cantiga da menina de tranças:
“A mulher negra será rainha, olê, seus cavalheiros!
Mas está presa no castelo, olê, olê, olá!
E por que ela não foge? Olê, seus cavaleiros!
Mas com quem está a chave?olê, olé, olá!

Eu queria
onda silenciosas dentro do meu rio
aqueles que fazem
xuá, xuá,
desmanchando portas de areia
xuá, xuá...

Eu queria
desaguar no leito da noite
de manhã navegar no dia,
preparar o próximo mergulho
ou talvez desaguar em algum
happy end.
 Poesia para dias de consciência...

13 de novembro de 2011

Guimarães Rosa - Correspondência

 Meus queridos amigos, como já disse em outras ocasiões, gosto muito de correspondências alheias. 
Creio que ao escrevermos uma carta colocamos dentro do envelope um pedacinho de nós mesmos e enviamos a um destinatário que supostamente depois de ler irá guardar em alguma gaveta ou caixa - espera-se sempre não ser rasgada, queimada ou jogada no lixo - esse pedaço de papel, o qual  nos leva em cada linha.  Há aqueles que beijam as cartas, abraçam, cheiram, olham e suspiram, há os que leem e choram, deixando lágrimas marcar o papel. Há muita emoção e vida dentro dos envelopes. Pois bem meus queridos, segue uma carta de Guimarães Rosa ao Pe. João Batista Boaventura.
Nesta carta, Guimarães fala de "O recado do morro", conto que  integra o livro Corpo de Baile,  de Guimarães Rosa. E como não poderia deixar de ser, temos a possibilidade de conhcer um pouquinho mais este autor que encanta milhares de leitores mundo à fora.


Segue abaixo a carta...













11 de novembro de 2011

Convite/ Lançamento: A IDADE DO VEXAME & outras histórias


Convido todos os amigos de São Paulo, que ainda estão com a agenda vaga no dia 19 de novembro, para uma tarde marcada pelo vexame, ou melhor, pelo A IDADE DO VEXAME & outras histórias, o novo livro de Cesar Cruz.




A IDADE DO VEXAME & outras histórias, é fruto da compilação de algumas das melhores crônicas escritas por Cesar Cruz, escritor paulista de 41 anos, que tem neste o seu segundo livro.
O livro é composto por 45 histórias curtas, o avançar na leitura revela um autor firme, dono de um texto envolvente, que pode adquirir variadas nuances: ora incisivo, ora sutil; por vezes mesclando o humor fino ao ácido, temperando com pitadas exatas de ironia e lirismo, Cesar Cruz vai contando suas histórias, onde o denominador comum é o elemento social e humano, que, mesmo no humor, parece estar sempre presente nas crônicas do autor.

Para saber mais sobre o autor: Os causos do Cruz


30 de outubro de 2011

(...)escrevendo(...)

"Escrever é retirar-se. Não para a sua tenda para escrever, mas da sua própria escritura. Cair longe da linguagem, emancipá-la ou desampará-la, deixá-la caminhar sozinha e desmunida. Abandonar a palavra."

(Derrida)


29 de outubro de 2011

Campanha AQPAINE

AMIGOS, gostaria de apresentar a vocês a campanha AQPAINE (Associação Quilombola da pastoral do Índio e do Negro de Riacho de Santana -BA): AQUI


Divulgue essa ideia entre os sseus amigos...e contatos. Muito obrigada pelo carinho.   bjão

25 de outubro de 2011

10ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA


AS DIVERSAS FACES DA POESIA NA 10ª BIENAL DO LIVRO DA BAHIA
PRAÇA DE CORDEL E POESIA

A Praça de Cordel e Poesia vem com todo o ímpeto e com todo o encanto que são característicos da linguagem poética. Nesta edição, contempla, mais uma vez, as diversas faces da poesia baiana contemporânea, além de apresentar ao público alguns poetas de outros estados e até de outro país.
Ao todo serão 85 artistas da palavra que farão, ao longo das dez noites de bienal, um grandioso espetáculo. A cada noite, a partir das 18 horas, acontecerão três sessões de poesia. Cada uma com dois ou três artistas e com duração de 50 minutos.
Poetas consagrados, como Ruy Espinheira Filho e Luís Antonio Cajazeira Ramos, e jovens estreantes, como Vanny Araújo e Darlon Silva, estarão na Praça da Poesia recitando seus versos.  Representando a cultura popular, estarão presentes cordelistas de grande valor, como é o caso de Antonio Barreto, Jotacê Freitas e Franklin Maxado.
A ligação da poesia com a música também será explorada. E a palavra cantada ecoará através da voz e da emoção das cantoras Flávia Wenceslau e Lane Quinto, e de outros intérpretes e compositores.
De Portugal para a Praça da Poesia, virá o poeta Luís Serguilha. E de outros rincões do Brasil, estarão presentes os poetas paulistas Mariana Ianelli e Luiz Roberto Guedes, o paraibano Babilak Bah, o mineiro Ronaldo Cagiano e os pernambucanos Ivan Maia e Wellington de Melo – nomes que abrilhantarão ainda mais esse grande encontro poético que, certamente, proporcionará ao público da Bienal do Livro da Bahia momentos de beleza e de pura magia.

José Inácio Vieira de Melo
Coordenador e curador da Praça da Poesia
Poeta, jornalista e produtor cultural

24 de outubro de 2011

Convite

Amigos baianos, marquem logo na agenda estes compromissos...



Amigos alagoanos, não deixem de conferir...


18 de outubro de 2011

Galeria do Autor terá o cordel como tema


Encontro com o poeta, editor e pesquisador Haurélio


Encontro descontraído em que o escritor é convidado a apresentar ao público uma seleção de livros e sugestões de leitura do acervo da Biblioteca.

O escritor bate um papo com o público sobre o gênero Cordel e apresenta a sua seleção de livros para compor o acervo da biblioteca. Retirada de ingressos na Central de Atendimento a partir do dia 30/09. 70 vagas. Área de convivência.

Quando?
19 de outubro (quarta-feira)
A partir das 18:30h

Endereço:
Rua do Carmo, 147 (próximo ao poupatempo - Praça da sé)
Centro - São Paulo - SP
CEP 01019-020
Telefone: 11 3111-7000
Fax: (11) 3107-0306
E-mail: email@carmo.sescsp.org.br


Mais informações:
http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=204405

Pelo que entendi o ingresso é gratuíto. Então passa lá galera de São Paulo

10 de outubro de 2011

Melodia sentimental

Esta noite recebi do amigo José Maria um lindo presente: esta canção que partilho com vocês. Espero que gostem.


Mas esta não foi a única canção que ouvi durante o dia...

A tardezinha, numa mistura de graves e agudos,
com o auxílio de coadjuvantes:
o vento, o chão, as folhas, as árvores, os telhados...
A chuva se fez canção.
Pela primeira vez, gotas de água caídas do céu
gotas sonoras de paz
canção da alegria
tranquilo som divinal
terna melodia celeste
embalo das esperanças minhas...
caídas do céu!

 -Paula Ivon Laranjeira-

Isto porque a chuva é mais do que água. 

8 de setembro de 2011

O HUMOR NOSSO DE CADA DIA



Paula Ivony Laranjeira de Souza

Escrever um texto falando de um determinado livro parece algo simples e corriqueiro. Também já pensei assim, mas depois de ler A mulher dos sonhos e outras histórias de humor tenho pensado diferente. Isso porque, tenho receio de magoar a classe livresca, que muito unida podem pedir ao autor a minha degolação, pois creiam-me amigos, livros são objetos perigosíssimos.
O livro é de autoria de Aleilton Fonseca, publicado pela editora Via Liteterarum em 2010. Em suas 124 páginas nos deliciamos com 25 contos que apresentam cenas hilariantes do cotidiano. Crê-se que alguns leitores vão reconhecer nos contos lidos indícios da própria vida, ou a de um amigo, um vizinho, porém com um desfecho inesperado. As histórias são curtas, proporcionando rapidamente o prazer e o riso. Há que se considerar que a literatura humorística ganha mais facilmente o leitor, pois o riso só precisa ser estimulado.  Porém, A mulher dos sonhos, muito mais do que nos permitir um momento de descontração e riso, proporciona ao leitor rir de si mesmo, rir da vida, não da vida em si, mas da imitação da vida. Assim, ao sorrir da imitação da própria vida, o leitor se dá conta de que a racionalidade que lhe é inerente muitas vezes, o faz se perder de si mesmo.
Como salienta Ziraldo,
O humor, numa concepção mais exigente, não é apenas a arte de fazer rir. Isso é comicidade, ou qualquer outro nome que se escolha. Na verdade, humor é uma análise crítica do homem e da vida. Uma análise não obrigatoriamente comprometida com o riso, uma análise desmestificadora, reveladora, caústica. Humor é uma forma de tirar a roupa da mentira, e os seu êxito está na alegria que ele provoca pela descoberta inesperada da verdade.[1]
Nesse sentido, entende-se que despertar o riso ou tocar o senso de humor do leitor é um trabalho árduo, pois requer talento e  uma postura consciente e reflexiva para projetar no texto uma inversão e subversão da ordem vigente. Ou seja, o humor na literatura deve partir de uma ruptura entre a vida e/ou o cotidiano(a imagem tradicional que temos) e a vida representada (imagem reveladora da insensatez). Este contraste revela as incoerências e dissonâncias das ações e valores humanos. Assim, o texto humorístico, além de ganhar a atenção do leitor seduzido pelo prazer da comicidade, na maioria das vezes, reveste-se também de um papel crítico-reflexivo voltado para as ações, neste caso do leitor e/ou expectador.
Como lembra Marília D. da Rosa “A quebra do trivial para o cômico deve conseguir surpreender o leitor de tal forma a instigá-lo, agradá-lo, mas isso só ocorrerá se causar a identificação do leitor com o fato. Por isso, é importante considerar tanto o conhecimento do leitor quanto seus hábitos e cultura para criação de uma comédia, principalmente no tocante à intertextualidade”(ROSA, 2009, p. 16). Assim, entende-se que o senso de humor durante uma leitura varia de pessoa para pessoa, dependendo muitas vezes de alguns condicionantes.
Quando recebi pelo correio em agosto de 2010 o meu exemplar de A mulher dos sonhos, corri para fazer a leitura e não deu outra: risos ecoaram pela casa bem como certo encontro com uma razão irracional. Assim, informo que a epigrafe utilizada no inicio do livro, cumpriu-se. “O meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta, quando lesse minha história no jornal, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse “- Aí meu Deus que história mais engraçada” – Rubem Alves. Bem a casa não é cinzenta, tem pastilhas pretas. Mas a moça sorriu!
A leitura começa. No primeiro conto, O pai dos sábios, conhecemos a realidade dos apaixonados por livros, fato que me levou a crer que é muito arriscado tê-los em apartamentos. Além de serem “más influencias” para os jovens de todo um prédio, podem causar divorcio, expulsar moradores de casa, mas também podem ser vistos como um pelotão de fuzilamento, “se os dicionários resolvem pular em minha cabeça, matam-me na hora”(p. 20) um perigo, não acham? Assim o primeiro conto nos é apresentado  carregado de ironias.
Todo o livro é uma coletânea tipos e situações corriqueiras, com elementos conhecidos do leitor. Recomendo a casais que leiam, vocês vão se surpreender com algumas situações que sempre acontecem com os amigos de vocês. Claro que com vocês nunca acontece. Nos contos A mulher dos sonhos e Sacolas castanhas, temos uma situação bem comum na vida de mulheres ciumentas: “Sonhei que você está me traindo(...)Não se faça de desentendido: sonho é intuição. Se explique - agora!”(p. ) e “Sonhei que voce tinha ido embora com duas sacolas castanhas. Eu ri as gargalhadas. Expliquei que sonho são bobagens inventadas pelo cérebro desocupado durante o sono”(p.97)  mas vá explicar isso à mulheres que têm os sonhos como condutores de avisos.
Os dilemas conjugais são matéria riquíssima e bem aproveitada por Aleilton em várias facetas: Folga da empregada é uma boa situação para degustar os direitos adquiridos pelas mulheres com o levante feminista: futebol na TV, homem pilotando fogão e a mulher dando um passeio. Prato cheio para o riso em Receita caseira; já em Briga de casal o problema é mais sério, até porque a briga alcança alto nível vocabular, chegando o marido a assumir diante do amigo que presenciava a briga “Eu sempre soube que sou solipsista”(p. 47), o amigo é que fica sem nada entender com este tal soliptista. Mas Aleilton continua mexendo nos casamentos, desta vez,  tentativas de quebrar a rotina após algum tempo de bodas como em: Marilda Ama Omar,  Domingo no motel e Santa de casa; outras situações na vida de um casal também ganham destaque nas páginas deste livro como: compra de produtos que se referem a intimidade pessoal; ida de casais a restaurantes, aliás, lugar oportunidade para as mulheres apresentarem às amigas o ponto fraco dos maridos; sem contar a necessidade de fazer um filho, todos estes presentes em:  Compras especiais, Comédia conjugal e  Noite de Núpcias. Mas o mais surpreendente é saber que ainda há casais que só passam a existir por conta de homens tão abnegados e apaixonados que até torcem pelo Bahia mesmo sendo Vitória de corpo e alma como retratado em BA-VI em família.
Outras temáticas do cotidiano fervilham e acrescentam pitadas de humor à vida de qualquer leitor: as neuroses em tempo de surto de dengue, é o que se vê em Caso de dengue; Alô, telemarketing, Emprego temporário. E como em todo bom conto humorístico o que vale é o desfecho imprevisto, os convido a desopilar o fígado em, É a mãe,  O galanteador, e Uma informação por favor  além de outros contos.
Assim, com brilhantismo, sendo breve e conciso, Aleilton reconstitui cenas cotidianas apresentando situações e personagens comuns que bem manipulados se tornam condutores de um discurso cômico que liga o real vivido à realidade representada, transformando, assim, fatos corriqueiros  em elemento e motivo para o riso.  Aleilton é mestre em transformar nossas vivências em material literário. Na maioria dos seus livros, ele burila em nossas emoções arrancando lágrimas. Neste livro também tem feito algo semelhante, porém, trazendo o cotidiano como material para o risível, convidando-nos a rirmos de nós mesmos. Deste modo, pode-se dizer que ele figura para a literatura como um autor representativo da epifânia da emoção, conduzindo o leitor às lagrimas e ao riso.
Como diz Flavio Moreira da Costa na introdução aos Os cem melhores contos de humor da literatura universal:  “Mas chega, senão esta introdução corre o risco de ser escrita de terno, gravata e de colarinho duro. O leitor, calculo eu, está querendo roupa folgada e um lugar confortável para ter lá seus bons momentos de humor, e não ser obrigado a pensar sobre ele.”





 



[1] Revista Veja, 31 de dez. de 1969.