21 de março de 2012

Poema de 47 cromossomos



Quando ela nasceu um anjo certo
desses que vivem na luz, disse:
"Vai, Ana! Ser encanto, alegria e poesia"

Em Salvador num apartamento
sons de dor e tormento
A manhã perdeu o azul
tão triste fora a notícia

O sonho passa depressa
ela fala? ela anda? ela pensa?
Para que tanto medo, meu Deus, pergunta minha razão
Porém meu amor
não pergunta nada

A menina de olhos puxados
é alegre, linda e forte
conversa muito
tem muitos, muitos amigos
a menina atrás dos óculos - e de olhinhos puxados

Meus Deus, não nos abandones
És o nosso Deus e esperança
Não nos faça fracos

Amor, amor vasto amor
Se ela se chamasse Mariana
Ainda assim, seria Ana
Amor, amor vasto amor
mais vasto é o coração de quem ama

Ela não deveria escrever
não deveria pensar, 
não deveria falar
não deveria andar
mas nosso amor e nossa fé
botam ela com Deus a tudo alcançar.

- Paula Ivony Laranjeira -

Paráfrase do Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade.

Poema homenagem a Ana Maria no dia Internacional da Síndrome de Down.

9 de março de 2012

Convite/Lançamento: ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO, Org. Marco Haurélio



ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO
Organização de Marco Haurélio

Um passeio pelo que de melhor foi – e é – feito por grandes
cordelistas brasileiros é o que se oferece neste livro        


A Global Editora, mantendo seu firme propósito de publicar temas ligados à brasilidade, leva a literatura de cordel mais uma vez às livrarias. Sob a organização do poeta, cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira Marco Haurélio, Antologia do cordel brasileiro chega ao catálogo da editora.
          Para os envolvidos e estudiosos do assunto, são notórias a dúvida e as discussões acerca da origem do cordel. De onde veio? Como surgiu? Quando foi seu início? O que se sabe com segurança é que a literatura de cordel é uma arte cada vez mais presente e manifestada nas feiras e praças não só do Nordeste como também em outras regiões do Brasil.
          Marco Haurélio coligiu os textos desta antologia de maneira que o resultado mostrasse ao leitor quanto está apurada a literatura de cordel no Brasil. Os textos que compõem a coletânea são assinados por cordelistas de diferentes gerações. A obra é totalmente ilustrada com xilogravuras de Erivaldo, um dos nomes mais representativos dessa arte e o responsável por mais de uma centena de ilustrações em livros e folhetos de cordel.
          Como não poderia deixar de ser, Leandro Gomes de Barros, considerado por muitos o pioneiro deste gênero, abre o livro com o cordel “O soldado jogador”. Também estão presentes na Antologia do cordel brasileiro histórias de José Pacheco, Manoel D’Almeida Filho, Antônio Teodoro dos Santos, Francisco Sales Arêda e Manoel Pereira Sobrinho. A força da atual geração de cordelistas é verificada nos textos de Pedro Monteiro,  Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Evaristo Geraldo da Silva e Klévisson Viana, entre outros.
Nesta obra, o leitor terá acesso a um conjunto variado de cordéis, desde aqueles inspirados no conto maravilhoso, ou conto de fadas, como outros em que predominam mitos da Grécia Antiga e até alguns que deitam raízes nas histórias de animais.
Marco Haurélio chama a atenção do leitor para a importância desta antologia por ser a primeira a apresentar autores de todas as gerações do cordel no Brasil: “Os poetas contemporâneos, em especial, quase sempre são deixados de lado pelos estudiosos, que se embaraçam na busca pelas origens do cordel, ou se perdem no labirinto de obviedades dos que confundem este gênero com a poesia matuta ou com o canto improvisado dos repentistas”.
Diferente do que muitos pensam, a literatura de cordel está cada vez mais viva e, nos últimos anos, tem ultrapassado a fronteira dos folhetos e dos livros. Prova disso é a sua presença marcante em diferentes manifestações artísticas. Em 2011, a telenovela Cordel Encantado, veiculada pela Rede Globo, obteve índices consideráveis de audiência. Neste ano de 2012, no Carnaval do Rio de Janeiro, a tradicional escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, representada pelas cores vermelho e branco, levará à Marquês de Sapucaí o tema “Cordel Branco e Encarnado”.
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Sobre o organizador: Marco Haurélio, poeta popular baiano, professor, folclorista e editor, é um dos nomes de maior destaque na literatura de cordel da atualidade. Ministra oficinas e palestras sobre cordel e cultura popular em todo o Brasil. É autor de vários livros para adultos e crianças. Pela Global Editora, publicou Meus romances de cordel, uma coletânea de suas melhores composições.


Título:            ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO
Organização:   MARCO HAURÉLIO
Editor:            Gustavo Henrique Tuna
Páginas:         256
Preço:              R$37,00                                                                                  
Público-alvo:  Público em geral, sobretudo estudiosos e pesquisadores da cultura popular
   



Guilherme Loureiro
Assessor de Imprensa
Global Editora / Editora Gaia / Gaudi Editorial
Rua Pirapitingui, 111 – Liberdade
01508-020 – São Paulo – SP
Tels.: 11-3382-5802 ou 11 3277-7999 ramal 209

 



5 de março de 2012

Arte e Esporte: Garrincha, Veemer e Miguel Ângelo



Há uma relação bem maior entre arte e esporte do que se possa imaginar, malgrado a crise na qual passamos, em que a economia procura separar as duas atividades de nosso cotidiano, colocando-as em esferas separadas para, assim, maximizar os lucros imediatos. Mas isto já é outro assunto que deve ser pensado com bastante cuidado. Em outra ocasião retomo-o, pois faz parte de minhas preocupações.

Quero agora me referir a um gênio, Garrincha, que apesar de todos os interesses financeiros que envolvem as duas atividades atualmente, às quais ele nunca aderiu, permanece assim mesmo no imaginário do povo. Explico-me. Atualmente as atividades tanto artísticas como esportivas foram, infelizmente, subjugadas aos interesses econômicos. Isto não significa que os verdadeiros artistas não estejam atentos a essa situação. Arte e esporte são atividades tão humanas quanto nobres, entre poucas outras. Resumindo: Garrincha era outra coisa e ao não aderir mostra-nos uma tomada de posição ética.


Vamos aos fatos para não nos desviarmos do que pretendemos expor.

Primeiro, há um anedotário bem corrente tentado mostrar que Garrincha era um idiota que apenas jogava bola com certa maestria. Não, Garrincha era inteligentíssimo, sensível e perspicaz.

São pouquíssimos os registros sobre Garrincha, mas há uma entrevista, concedida quando ele abandonou o futebol, na qual diz que fez o possível para dar alegria ao povo, mas, como já não tinha condições físicas, percebeu que era a hora de parar e retornar à vida simples que sempre almejou. Ou seja, recusou-se a ser o que hoje é lugar comum: uma celebridade. Não aderiu e buscou a paz e a liberdade.

Segundo. Garrincha tinha outra noção de espaço e tempo, e aí se aproxima de questões que interessam à arte, ou seja, outra visão de mundo. Vamos tentar entender. Hoje um jogador recebe a bola e imediatamente chegam outros jogadores adversários reduzindo-lhe o espaço. Se o jogador não for muito rápido, se não executar imediatamente a jogada, perde a bola. Garrincha recebia a bola e esperava que o espaço ficasse bem reduzido com a chegada rápida dos adversários. Este espaço se reduzia a dois metros quadrados. Assim reduzido, dava-lhe tempo para driblar, olhar a colocação de seus companheiros, enfim, executar a melhor e mais eficiente jogada em um tempo bem maior. Conclusão: dois metros quadrados para ele eram tão grandes como uma área de vinte. Poucos segundos eram ampliados para alguns minutos.  Ele tinha outro conceito de espaço e tempo. E isso é uma questão que interessa à arte.

Em um de meus livros procuro desenvolver essa questão.

Continuando. Há no Louvre um quadro do Veermer de poucos centímetros de área pintada - A Bordadeira - mas com um espaço plástico bem maior. E os afrescos de Miguel Ângelo que estão na capela Sistina têm um espaço plástico bem menor do que as réguas nos dão. Quero dizer que, como pintor, Miguel Ângelo não explorou o conceito que ele mesmo formulou para a escultura, ou seja, o do “no finito”. Se o fizesse, certamente o espaço plástico engendrado pelos afrescos seria outro. Daí um poeta americano, Michael Palmer, em um verso perguntar: "Como  medimos?"

Mas sou braqueano, e esse pintor diz: "Não procure convencer, contente-se em fazer refletir." Por extensão: não chegar a uma conclusão, mas ir adiante com outras elucubrações.

Mudando de assunto, mas não tanto: há um humorista e cartunista francês que diz que o maior anão do mundo tem a mesma altura que o menor gigante.

José Maria Dias da Cruz
Florianópolis – fevereiro de 2012

2 de março de 2012

Ausência

há dias em que a alegria
nos abandona
não adianta,
até respirar fica difícil.
 Então, apenas o silêncio fala
Fala forte
e cala
me cala