29 de dezembro de 2010

Entrevista no Palavra Fiandeira

O Marciano Vasques acabou de postar uma entrevista comigo em Seu blog-revista PALAVRA FIANDEIRA.

Quando puderem passem por lá clicando em Palavra Fiandeira


Também lá fiz alguns pespontos...traga também seus retalhos e junte-os aos meus!

28 de dezembro de 2010

voltando...

Dias atrás recebi um e-mail com a música Metade cantada por  Oswaldo Montenegro e tendo como autor Ferreira Gullar, porém há aí um equívoco, pois a autoria da música é do Montenegro. O Ferreira Gullar tem um texto de nome Traduzir-se. Resolvi trazê-los para que vocês possam refletir um pouquinho, se preparando para o Ano vindouro. Ambos os textos são lindos!

METADE - Oswaldo Montenegro-


Que a força do medo que tenho


Não me impeça de ver o que anseio



Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito

Mas a outra metade é silêncio.



Que a música que ouço ao longe

Seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada

Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade.



Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo.



Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço

Que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.



Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.



Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância

Por que metade de mim é a lembrança do que fui

A outra metade eu não sei.



Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

Pra me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço.



Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção.



E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade também.

-Do libreto da peça teatral João sem Nome lançado em 1975-

                          
TRADUZIR-SE - Ferreira Gullar





Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.



Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.



Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.



Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.



Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.



Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.



Traduzir uma parte

na outra parte

— que é uma questão

de vida ou morte —

será arte?


-Na Vertigem do Dia (1980)-

 
Estou de volta....bjs Paula