A costureira


Resumindo...


O processo de descrição de si próprio constitui para muitos a procura de cores para vidas em preto e branco. Tenho uma vida arco-íris, como um conto de fadas. Filha de pais agrafos, nasci bibelô, ou uma fada como a sininho vivendo em um mundo que não era meu. Com onze meses a bruxa mandou uma raposa malvada, como o lobo-mau, me devorar. Mas meu irmão, valente lenhador, pegou seu machado e matou o bicho.
Com três anos decidi ser bailarina, e comecei a andar na ponta dos pés. Mas com o tempo também aprendi dançar forró, lambada, samba e axé. Depois resolvi me aventurar sob rodas: charrete, carro de boi, velocípede, carrinho de bebê, bicicleta e cadeira de roda. Sem muito o que fazer, a vida resolveu, e virei madame. Mas esse negócio de não fazer nada, cansa.
A opção? Estudar.
Lembro do dia que toquei em um caderninho, dos mais baratinhos que uma pessoa sem posses pode comprar, um lápis com borracha na ponta e um bornal pequeno para colocar  material. No ano seguinte fui para uma escola real, com matrícula. Com oito anos sentada em um carrinho de bebê, único transporte que aliviava os braços da minha mãe, me alfabetizei. A “primária” fiz na Escola Jonh Kennedy. Sem carrinho, era levada nos braços de uma babá, depois minha mãe comprou uma bicicleta tão velha que sempre quebrava. No “Ginásio” tive que ceder, assumir minha condição, encarar uma cadeira com quatro rodas,  de certa forma uma carruagem encantada que conduzia uma princesa que se transformou em um ET. Desistência.
Depois de quatro anos volto a estudar. Uma branca de neve rodeada por anões que depois de algum tempo desperta de sono profundo. A vida me pertencia e não o contrário. Jesus sai da cruz e disse que me amava assim e que assim me queria para o mundo. Fiz magistério. Fiz estágio, Fiz de tudo. Fiz faculdade. E agora faço pós...Leio...Escrevo...Leio-me...escrevo-me.
As dificuldades encaro todos os dias: olhares desconfiados, pena, desprezo, e o que é melhor, inveja.  A família corre em minhas veias, os amigos sustentam-me, os estudos permitem que eu flutue, dê passos, corra o mundo, sonhe-realise-sonhe...viva.

Paula Ivony Laranjeira



Para saber mais sobre mim: Confidências, no blog (In)PERCEPÇÕES 
Retalhos profissionais: Currículo Lattes
 

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido" *Clarice Lispector*