24 de junho de 2010

Por que você gosta de São João?


São João, festa cristã com traços pagãos.
Primeiro, era apenas uma forma de homenagear o santo,
Uma fogueira e nada mais,
Aí veio as visitas aos vizinhos,
Aposto que era para ver quem fazia a fogueira maior.
Todos deveriam querer "ficar bem na fita" com São João.
Depois acrescentou-se comidas,
Então faziam-se visitas para os vizinhos para apreciar a fogueira.
E claro, encher o barriga.
E haja comida para os glutões de plantão.
As coisas foram ficando sóbrias: e toma-lhe quentão.
Eita, que o negócio está ficando bom!
Depois de tanta bebida, veio a coragem...
vamos pular fogueira e virar compadres e comadres.
Mas ainda faltava algo.
Com tanto fogo veio a ideia(luz): falta música.
Aí tiveram que inventar o forró,
depois a quadrilha e assim por diante.
E o que era só de cristão, está lotadinho de pagão!
Por que curtimos tanto o São João?
Sei lá...!!!
Quem não gosta de fogo numa noite fria?
quem não gosta de comida gostosa?
quem não gosta de uma bebida
(pode até ser água, suco ou refri,
já que tem gente que não gosta "aguardentes")?
quem não gosta de uma musiquinha e dançar agarradinho?
Eita, que é pergunta demais sô!
Gosto mesmo, e isso explica tudo, é de visita de São João.
um vai na casa do outro,
bate um papinho,
uma boa risada,
encontra amigo,
fica-se amigo,
encontra família
e parente desconhecido,
encontra um amor... até dois ou três...
ninguém lembra do santo,
mas todo mundo lembra que foi num dia de São joão...
Foi neste dia que... (e cada um tem sua história para contar)

Por que você gosta de São João?


(o texto acima não é fiel a cultura popular nem às escrituras bíblicas. É apenas o resultado, talvez, da imaginação ou de tudo que permeia meu imaginário. Portanto, os dados não se configuram como verdade.)

18 de junho de 2010

Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago.


Morreu nesta sexta-feira (18) em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), o escritor português José Saramago, aos 87 anos. Em 1998, Saramago ganhou o único Prêmio Nobel da Literatura em língua portuguesa.

A Fundação José Saramago confirmou em comunicado que o escritor morreu às 12h30 (horário local, 7h30 em Brasília) na residência dele em Lanzarote "em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila".


Certamente o mundo perde uma grande fatia de genialidade. No entanto, apesar de nossa perda, ele estava tranquilo. Já espera. Ela (a morte) já o tinha avisado de que viria e por tal, ele estava entre os seus. Deve ter feito seu testamento, se reconciliado com amigos, e primos com os quais teria brigado. Assim ele escreve sobre a morte em seu livro As intermitências da morte, lançado em 2005. Ele sabia que a imortalidade era impossível em termos reais. mas como negar que ele já é um imortal?

12 de junho de 2010

O Amor: em busca de conceitos

Há aproximadamente um mês, Marciano Vasques, autor de livros infantis, e dono dos blogs CASA AZUL DA LITERATURA, CASA AZUL DA ARTE, CASA AZUL DA EDUCAÇÃO E PALAVRA FIANDEIRA, me convidou a escrever um texto para uma edição especial do PALAVRA FIANDEIRA, com abordagens sobre o amor para o Dia dos namorados (12/06/2010).

Passem por lá e confiram este e outro textos.

AUTORES CONVIDADOS:

CARMEN EZEQUIEL (Portugal); MARÍLIA CHARTUNE (Brasil); MONTSERRAT (Espanha); NORMA LUGO (Argentina); JÉSSICA LIMA (Brasil); REGINA SORMANI (Brasil); PAULA LARANJEIRA ( Brasil); ROCÍO L' AMAR ( Chile); DANILO VASQUES (Brasil)



Eis o link: http://palavrafiandeira.blogspot.com/2010/06/palavra-fiandeira-32.html


Aqui segue apenas o meu texto.

PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DE LITERATURA

SEGUNDA EDIÇÃO TEMÁTICA
ANO 1 - Nº 32 - 12/JUNHO/2010


O Amor: em busca de conceitos


Por: Paula Ivony Laranjeira


Um sentimento milenar que promove a felicidade, mas que também pode gerar a tristeza, o amor, é figura fácil nas conversas do cotidiano, em músicas, na literatura, nas artes plásticas, no cinema, e em vários ramos da ciência. Um sentimento tão presente suscita conceitos diferentes. Mas é possível explicá-lo ou descrevê-lo? Quem poderia dizer o que é o amor?

Para tentar responder esta assertiva vamos perambular por este sentimento-aranha que envolve e prende suas presas de tal forma, que o ser capturado não queira se desprender das teias. Explorá-lo não é tarefa fácil, mas muitos são os que se arriscam. Alguns valendo-se de linguagens poéticas conseguem alcançar o sublime, pintando com suas metáforas algo palpável. Outros, apesar dos recursos linguísticos e do alcance popular que seu conceito ganha não conseguem abarcar o inenarrável significado que ele possui.

A literatura está encharcada dessa temática. Poetas e narradores nos embalam em seus delírios líricos-amorosos. Para uns um sentimento implacável, para outros convenção, em uns causa felicidade em outros tristeza mortal. Um dos mais conhecidos conceitos descritivos do amor foi feito por Camões, que sentencia: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer” Tem-se neste soneto vários conceitos que subjetivamente descrevem o amor bem como seus efeitos, possibilitando ao leitor, que faz uso dos versos, sentir certa intimidade com as metáforas, alcançando o real, antes possível somente nos delírios oníricos. Mário Quintana, nos traz outra acepção: O amor é quando a gente mora um no outro”. Nisto, entende-se a segurança do estar presente fisicamente num espaço. Morar, habitar, residir em um local que não é seu, não é você, mas que foi conquistado, e por tal, te pertence, é uma extensão sentimental-corpórea recíproca de si. Já para Drumonnd, “Amor é estado de graça e com amor não se paga (...) Amor foge a dicionários e a regulamentos vários”. Assim, o poeta evidencia que o amor é algo gratuito, não precisa ser correspondido, e faz bem a quem o sente, o eleva a um plano superior, quase divino. No entanto, o que mais chama a atenção, neste texto, é o fato do autor anunciar que o amor não cabe em conceitos ou dicionários. Não se explica tal sentimento, ocorrência que é reforçado por Sêneca “O amor não se define; sente-se”.

Além da poesia, a literatura traz uma vertente revolucionária para as relações amorosas: o romance. Por muito tempo o amor viveu várias facetas: animalesco, idealizado, sacralizado, pecaminoso, etc. No entanto, dos ingratos acordos de família, o amor passa a ser vivido pela atração que desperta entre dois seres. Isso mais precisamente no século XIX, com o surgimento dos folhetins que leva à sociedade histórias cheias de amantes que fazem de tudo para viverem suas próprias narrativas de amor. Isso acaba sendo refletido na sociedade, gerando novas conceituações para o amor bem como uma linguagem cheia de imagens simbólicas no intuito de explicar um sentimento que ganha matizes e intensidade diferentes, mas que tem que ser vivido a qualquer custo.

Nas artes plásticas, nos deparamos com a história de amor entre os escultores Rodin e Camille Claudel. Ela, aluna e modelo, ele o mestre. Eles se apaixonam e vivem uma história de amor, como muitas, cheia de sofrimentos. Isso porque Rodin se casa com Rose, e Camille passa a ser a sua amante. No entanto, aos poucos, ele vai se distanciando até não mais procurá-la, fator propício para um desequilíbrio psicológico que a leva ao hospício, estando lá até a morte. Um amor tão intenso faz Camille expressá-lo através de seus entalhes. Assim, a arte e o amor, união belíssima, gera rebentos significativos e expressivos como os produzidos por Camille. As imagens postadas abaixo falam por si, revelam o que vai na alma de quem as produziu. Nas esculturas é possível observar a paixão, o desejo, a dor e o desespero do abandono, o que nos possibilita olhar o amor representando conceitos ora de felicidade ora de sofrimento.





Como diz Honoré Balzac, “O amor é a poesia dos sentidos”. Neste caso, tal sentimento perpassa o corpo, e vai sendo conceituado ou talhado pelas mãos, expressando muito além do que os olhos podem ver ou do que as mãos podem deduzir via toque. Reflete o que envolve a alma de quem modelou ou de quem, defronte o bronze, aprecia.

A variedade de conceitos que abarcam o amor também se faz presente na música. Nela o amor é cantado nas mais variadas formas: para Djavan “vaga entre o lírio/ da luz solar/ e a agonia do quebra-mar/ forjado em ouro
tesouro/ que não existe pra se comprar” (Sentimento verdadeiro, Djavan). Neste vagar musical, o amor busca parada na natureza: na pureza do lírio, no brilho e calor do sol, na força das águas marítimas. E finalmente ganha valor superior ao ouro, metal valioso e cobiçado. Horsth e Feghali também tomam emprestado da natureza elementos para possibilitar uma conceituação mais eficaz do amor, para eles o amor é “Tempestade de desejos/ Um eclipse no final de um beijo/ O amor é estação/ É inverno, é verão/ É como um raio de sol/ Que aquece e tira o medo/ De enfrentar os riscos/ Se entregar...” (Amar é. Comp.: Cleberson Horsth - Ricardo Feghali). Além dos elementos naturas, este último trecho chama a atenção para o fato de este sentimento retirar o medo. Quem ama corre todos os riscos, enfrenta os próprios medos com a finalidade de viver este sentimento, e alcançar a felicidade. No entanto, Djavan, afirmar que o amor/amar “é um deserto/ E seus temores/ Vida que vai na sela/ Dessas dores” (Oceano. Djavan). Se para Horsth e Feghali o amor faz perder o medo, para Djavan é algo que causa medo, algo que se teme como o deserto. Cabe ressaltar outro conceito para o amor, presente em músicas, que chama ao palco a noção de eternidade. O amor verdadeiro será eterno, como se vê na composição de Roberto e Erasmo: “Um amor de verdade/ (...) é pra sempre/ É pra eternidade/(...)O amor é assim/ Eu tenho esquecido de mim/ Mas dela eu nunca me esqueço”(Amor sem limite, comp.: Roberto Carlos / Erasmo Carlos). É um sentimento nobre, que faz o amante esquecer-se de si em favor do outro. Tudo é feito para o sujeito amado. Porém, cabe lembrar, que fazendo pelo outro, está fazendo por si, visto que, o gozo e a felicidade alcançada com o sublime ato de doação de si, são recíprocos bem como os frutos.

Nota-se que o amor recebe conotações variadas e envolve parte do nosso sistema sensorial nesta elaboração conceitual. Assim, temos a audição (a música), visão (esculturas, pinturas e a leitura de textos) tato (escultura). Por estas vias, a expressão artística do sentimento amoroso adentra o sistema nervoso associando-o com outras infinidades de conceitos. Aos poucos, elementos variados são tomados por empréstimo do mundo real/concreto para tornar palpável um sentimento que perambula entre neurônios, células, músculos, nas esferas psicológicas ou na força imaterial que chamamos de alma, mais especificamente vivificada no órgão cardíaco. Por mais que se conceitue o amor, percebe que ainda temos a necessidade de continuar buscando uma formação frasal que nos abarque em momentos distintos, isto porque devido à individualidade e subjetividade do mesmo, as definições existentes sempre podem ser aperfeiçoadas ou moldadas às nossas necessidades.

Diante do exposto, é viável o comentário de Mary Del Priore, em entrevista a revista Cult, A liberdade sexual é um fardo para os mais jovens. Muitos deles têm nostalgia da velha linguagem do amor, feita de prudência, sabedoria e melancolia, tal como viveram seus avós. Hoje, a loucura é desejar um amor permanente, com toda a intensidade, sem nuvens ou tempestades. Numa sociedade de consumo, o amor está supervalorizado”. Del Priore ainda reforça, “Sabemos, depois de tudo, que o amor não é ideal, que ele traz consigo a dependência, a rejeição, a servidão, o sacrifício e a transfiguração. Resumindo: existe um grande contraste entre o discurso sobre o amor e a realidade de vida dos amantes.” Isso nos faz entender que apesar da variedade conceitual-poética do amor há uma diferença entre o que se diz e o que se vive. Assim, devemos levar em contar que o amor cantado em prosa e verso pertence, muitas vezes, a um mundo idealizado, com definições idealizadas. Mas há quem não goste de idealizá-lo?


7 de junho de 2010

Cori


*Paula Ivony Laranjeira*

Meu velho pai é uma figura.
Um senhor magricela de 75 anos,
que depois de muito trabalhar na roça,
se dá ao luxo de dormir e pescar.
O velhinho acorda as três horas da manhã
e vai para seu recanto sagrado: a roça.
Não pensem que lá tem plantação, pois não tem.
Não pensem que se cria gado, galinhas ou porcos.
Resta-lhe apenas uma vaquinha,
há os animais nativos que vivem na mata e bebem numa nascente.
Percorre 14 Km de ida e volta, diz ele, ser para exercitar.
Mas acho que é para botar o olho no mato,
sentir o cheiro da terra,
matar a saudade do tempo em que plantava e colhia.
Imagino meu velhinho naquele casebre abandonado,
sentado na porta, pitando seu cigarro, soltando fumaça e lembrando...
lembrando dos seus meninos correndo pelos matos,
procurando abelhas para colher o mel,
fazendo diabruras com os bichos,
o pasto feito, as lavouras variadas, as criações diversificadas...
Coisa que lá não existe mais.
Quando volta deste seu paraíso, meu pai deita no sofá e dorme.
Meu olhar fica horas a espera do sono profundo que deixa o braço dele cair
passando da testa ao nariz, e deste à boca.
Eu me comovo em risos,
contemplo sua história, sua luta,
admiro seu exemplo, corrijo seus erros...
Neste homem do sertão, o riso é raro, mas compensador.
Sua alegria está na pescaria:
arrumar a tralha, procurar iscas,
arrumar as varas, e trazer o peixe.
Pescador importante, não falta no grupo de amigos,
não que ele seja o grande pescador,
mas é o motivo do riso dos companheiros,
dizem as más línguas que, certa vez, em pescaria,
veio uma onça pintada, cheirou corpo dele,
mas logo saiu, por falta de carne.
Este velho de que falo, sempre gostou de "malinezas"
Conta a minha mãe, que ele, homem casado e com filho,
para deixar as irmãs loucas, aprontava muitas.
Certa vez, quando uma das minhas tias saiu,
foi ele como um gato sorrateiro na casa vazia,
pegou o recém-nascido e se escondeu com ele no mato,
minha tia quando chegou dando falta da criança
ficou louca, e saiu gritando que lhe roubaram o filho.
Meu pai aparecia logo depois, com cara limpa, riso de criança que apronta,
e o menino nos braços rindo da pobre da minha tia.
Meu velhinho não é mesmo uma figura?