O conhecimento e a informação são requisitos desejados por muitos, porém saber um pouco mais, costuma nos afastar das coisas simples, nos impede de ter esperança, de acreditar nas pessoas etc, fato que se percebe no filme “ Narradores de Javé”, e em especial, na personagem Antonio de Biá, que em determinada cena demonstra ao telespectador seu descaso frente a calamitosa situação da sua cidade. Biá não acreditava que as narrativas simplórias de sua gente fossem capazes de impedir a ganância e o progresso.
Nas últimas cenas do filme, no momento em que os moradores da cidade viram as costas para Biá, é possivel perceber, que este tenta, por sua vez, conscientizá-los da inutilidade de tal ato, já que ninguém vai parar a construção de uma barragem por causa de meia dúzia de pessoas que nem se quer sabem escrever. Segundo ele, as narrativas “ é melhor que fiquem na boca das pessoas, porque ninguém poderá contá-las bem no papel”. Os moradores, com isso, viram as costas para o progresso/futuro/Biá. No entanto, por um momento, Biá olha para o passado, e é tocado pelo sentimento de culpa, que logo passa, em seguida ele caminha na direção do futuro deixando atrás de si ruínas, catástrofes do passado, fragmentos de muitas vidas analfabetas, na maioria das vezes escondidas em lugares desconhecidas.
Destarte, é para este passado ignorante que Biá volta seu olhar, sem conseguir desviar-se já que o mesmo faz parte dele também, apesar das “ informações” que adquiriu, lhes dizerem o contrario. Nessa linha de pesnamento, é possível associar o gesto de Biá à mesma cena no quadro de Klee, “Ângelus Novus”, o qual Benjamin descreve tão bem:
“(...) um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente (...) seu rosto está dirigido para o passado. Onde nos vemos uma cadeia de acontecimentos, ele deu uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruínas sobre ruínas e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso”.
Biá foi se distanciando do seu povo, como nós nos distanciamos das narrativas, da nossa história, das nossas raízes. Ao analisar o filme, o texto e a pintura, entendemos o que Benjamin quis dizer ao falar sobre a narrativa em Leskov: “ descrever um Leskov como narrador não significa trazê-lo mais perto de nós, e sim, pelo contrário, aumentar a distância que nos separa dele”. No entanto, Walter Benjamin, felizmente se equivocou quando previu a morte da narrativa para os nossos tempos, já que ainda há escritores empenhados em narrar, deixando transparecer no papel um misto de conselhos e relatos cheios de experiências, sabiamente incrustados como, por exemplo, no livro O Desterro dos mortos, de Aleilton Fonseca, autor baiano que escreve seus contos possibilitando ao leitor a sensação de estar ouvindo histórias em vez de lendo.
Entretanto o mesmo não acontece no cotidiano das pessoas, que sempre apressadas vão se esquecendo de contar suas experiências, aí sim percebemos o quanto a arte de narrar se distancia de nós. Talvez por isso, caminhamos para o futuro com os olhos no passado.
Por: Paula Ivony Laranjeira
2 comentários:
Paula.
Postou no correto. O outro acho que foi retirado do ar, junto com o cancelamento da conta antiga graças a denúncias de amigos meus.
Mais exclarecendo as suas dúvidas... eu digo o seguinte.
Blog antigo (não funciona mais)
http://brainstormride.blogspot.com
Blog novo (nesse pode postar)
http://brainstorm-ride.blogspot.com
Espero ter exclarecido.
Beijinhos.
Não me queres dizer onde mora o teu sorriso
Ausente do incontido abraço
Ausente das palavras felizes
Envolto em nuvem escura no espaço
Não me queres dizer o rumo
Que leva ao teu terno coração
Não me queres abrir as portas
Da cor vibrante da paixão?
Bom domingo
Doce beijo
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