30 de abril de 2012

Música: arte chegando à escola

Com a Lei nº 11.769 torna-se obrigatório o ensino de música nas escolas brasileiras. Como todos sabem, somos um país musical e a iplantação da disciplina "música" poderá ser um agente positivo para transformar a escola em um lugar mais atrativo. Entretanto, nos deparamos com um grande problema que é a falta de profissionais capacitados para exercer a tarefa de forma que ajude no desenvolvimento da musicalidade latente que está presente no brasileiros.
No site da Associação Brasileira de Educação Musical discute-se, a partir do ponto de vista de dois especialista, os pós e os contra da implantação da lei.


"PRÓ >
O Brasil possui uma riqueza cultural e artística que precisa ser incorporada, de fato, no seu projeto educacional. Isso só acontecerá se escola e espaços que trabalham com educação começarem a valorizar e incorporar, também, conteúdos e formas culturais presentes na diversidade da textura social. Portanto, sou a favor da Lei e, obviamente de seu cumprimento, mesmo reconhecendo que levará tempo para que se possa, de fato, termos o ensino de Música nos Projetos Pedagógicos das Escolas. Não há professores suficientes para essa implementação. O MEC vem investindo em capacitação para professores da Educação Básica, para reverter o quadro geral e sofrível das estatísticas baixas em termo de desempenho, em todas as áreas. Trata-se de um momento importante para se pensar em projetos educacionais inovadores e condizentes com nosso tempo. O ensino das Artes incorporado em projetos dessa natureza vem ao encontro de propostas inovadoras, em que a expressão cultural e artísticas são reconhecidas como dimensões insubstituíveis e, portanto, únicas nos sentido de promover o desenvolvimento humano. A proposta que preconizamos não fecha em conteúdos pré-estabelecidos, mas antes, reconhece que a diversidade cultural deve ser considerada ao se elaborar os projetos. Isso significa que os valores simbólicos das culturas locais devem estar presentes juntamente com aqueles conhecimentos que fazem parte do patrimônio musical que é um legado da humanidade. Dessa forma, a Lei favorece que se abra esse espaço tanto para uma discussão sobre o que se pode fazer para melhorar a educação brasileira como, também, possibilita que se planeje essa inserção no sistema educacional brasileiro. Isso está ligado ao exercício da cidadania cultural, um direito de todo brasileiro e, a escola é, ainda, o único espaço garantido constitucionalmente de acesso a toda a população. Nesse sentido é que as práticas musicais se mostram como um fator potencialmente favorável para a transformação social dos grupos e indivíduos. Poder contar com seus valores musicais no processo pedagógico-musical pode se tornar um ponto significativo para um trabalho de ampliação do status de “ser músico” ou de participar de um grupo musical.

Prof. Dra. Magali Oliveira Kleber: Doutora em Educação Musical, Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina e Presidente da Associação Brasileira de Educação Musical- ABEM. ______________________________________________________________________________
CONTRA >

Com a reforma educacional empreendida pelo regime militar nos 1970 (Lei 5.692/71), o ensino de música de 1º e 2º graus, gradativamente deixa de existir. O ensino de arte, sob a denominação de educação artística, passa a ser componente curricular obrigatório e, no caso de São Paulo, será considerada como atividade e não como área de estudo ou disciplina. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a denominação de educação artística muda para ensino de arte e continua sendo um componente curricular obrigatório em toda a educação básica. Na sequência, o MEC divulga os Parâmetros Curriculares para o Ensino de Arte, contemplando as linguagens de Artes Visuais, Teatro, Música e Dança. Paralelamente inicia-se um processo de encerramento dos cursos de educação artística, criados para formar professores multidisciplinares; e a criação de cursos especializados em uma das linguagens, uma delas educação musical. Como a maior parte dos professores é habilitada em Educação Artística com especialização em Artes Plásticas ou Visuais, na prática as outras linguagens não aparecem no currículo escolar. O quadro começa a mudar a partir de 2008, quando a Lei Federal nº 11.769 inclui um parágrafo 6º que torna conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, o ensino de música no componente curricular ensino de arte, previsto no § 2º do artigo 26 da LDB de 1996. A questão a ser enfrentada, a partir desse momento é a da formação de professores especializados para o ensino de Música. Tarefa que levará algum tempo, muito mais que os três anos estabelecidos pela legislação, tendo em vista serem poucos os cursos de licenciatura em Música no Brasil. Para que se tenha clareza sobre a dimensão do problema, basta mencionar que só na rede pública estadual paulista existem mais de 5.000 escolas, acrescente-se a esse universo as redes municipais e as escolas particulares e a questão da formação de professores especializados em Música torna-se mais complexa ainda. O vice-presidente da República, ao vetar o parágrafo único do art. 62 da LDB, criou uma lacuna, que a meu ver, precisa ser suprida pelos Conselhos Estaduais de Educação. O papel do poder público não é apenas normativo, mas deve criar programas para habilitar professores para o ensino de música na educação básica, como, aliás, está previsto pela legislação educacional.

Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho: Doutor em Educação e membro do Conselho Estadual de Educação. Professor Titular no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista – UNESP."

No inteuito de subsidiar o trabalho do professor nessa fase incial o MinC em parceiria com a VALE criaram o projeto "Música na escola". Este projeto tem como objetivo a contribuição para a instrumentalização de professores, em resposta à lei que determina a obrigatoriedade do ensino musical nas escolas de ensino básico. Oferece material para consulta e reflexão para quem trabalha em sala de aula, por meio de propostas de conteúdos programáticos para o ensino da música; textos inéditos e sugestões práticas de exercícios, dinâmicas e processos a serem aplicados no dia a dia, nos mais diferentes contextos, faixas etárias e regiões do nosso país. 
Segue abaixo o link do site do projeto com o material disponível para download AQUI.

 


26 de abril de 2012

A velhice...


A Velhice e a juventude e os auto-retratos de Rembrandt, um trecho de um e-mail de Antônio Augusto Mariante e um adendo escrito por José Maria Dias da Cruz

Estou hoje lúcido como se estivesse para morrer
Àlvaro de Campos (Fernando Pessoa)

 
Auto retrato de Rembrandt quando jovem

“Pelo amor de Deus, não se preocupe também com o envelhecimento - é o preço de uma vida em sua extensão em franco alongamento. Sei que há percalços de natureza física, mas isso faz parte do próprio movimento da mera natureza das coisas. Vejo a velhice como o ponto de culminância de um sujeito, onde mente e espírito atingem o ápice daquela individualidade - entretanto, tal situação só se dá com criaturas de escol, e pouco importa que sejam até analfabetas, pois o relevante não é a cultura adquirida, mas a sabedoria alcançada. Adoro uma negra velha bem sábia, dessas que calejaram suas mãos num tanque e numa cozinha, e se afirmam quase puras quando a morte as abraça.
Entretanto, não é bem esse o caso da maioria dos velhos que tenho encontrado pelo caminho de minha sensibilidade: eles se impõem pelo retrocesso e pela infantilidade, negando a morte como um bom avestruz ou uma tola criança inglesa que se recusa a emprestar seu teddy bear.
Adoro John Huston que dirigiu The Death (baseado num conto de Joyce) numa cadeira de rodas e com uma sonda pavorosa entrando por uma das suas narinas. O filme é chato, mas a iniciativa dele é sublime.
Portanto, não se aflija e toque o cavalo no touro! Pinte até o fim! E o resto que se dane!”  -Antônio Augusto Mariante -


A velhice ontem e hoje

É na velhice que o homem pode ter uma consciência de sua existência e, assim, saber se ela, esta existência, foi uma realização plena que lhe permita, então, perceber que não viveu em vão, que considerou os outros e até mesmo se deixou um legado. Por outro lado pode, também, até mesmo perceber se sua vida foi submissa a interesses alheios a sua existência, interesses estes que o levaram a um individualismo exarcebado, inútil, egoísta e que na maturidade lhes permitam se rever e se salvar com um olhar de ternura.
Um exemplo são os auto-retratos de Rembrandt. Um pintado quando ainda jovem. Sua expressão é altiva, vaidosa, preparada para um destino vencedor. Outro na sua velhice. Neste a sua expressão já diz tudo. Ficam claras a sua lucidez, maturidade e sabedoria apesar da trágica derrota e da solidão antes de seu fim. As palavras tornam-se até quase inúteis, percebe-se logo quando se vê o auto-retrato quando velho. Há um olhar que nos vê e se vê.  Um olhar de ternura.
E hoje, quando se enaltece tanto a juventude! Por quê?
E o que é o tempo de uma vida? Há aquela, padronizada, medida pelos anos. Mas há aquela que pode ser medida também tanto pelas condições físicas dos indivíduos ou como pelos seus respectivos estados de amadurecimento.  Cronos e aión em convivência.  

- José Maria Dias da Cruz -



  

Auto retrato de Rembrandt quando velho

 Este texto foi enviado pelo amigo José Maria Dias da Cruz
  

15 de abril de 2012

Nasci escritor



Nasci como todas as crianças: um escritor, e dos bons. 


No início bastava um espaço amplo no qual pudesse inserir via imaginário muitos elementos constitutivos de algum espaço desejado: uma casa, um escritório, um consultório, um programa de TV ou qualquer outro; se tivesse com quem brincar era mais fácil, bastaria decidir que personagens existiriam e distribuí-los entre os amigos, depois definir o que estariam vestidos, como seriam e o que diriam. Se não houvesse um amigo para partilhar o processo criativo, então nasciam personagens produzidos para satisfazer nossas intenções e necessidades sem que houvesse conflito. Assim aprendi a técnica da descrição.
Em outros momentos, sentada ao lado de um amigo ou algum adulto disposto a ouvir, narrava meus feitos: na maioria das vezes era um amazona destemida que viajava por reinos longínquos lutando com monstros; outras vezes era uma rainha poderosa que cuidava de um grande reino e tinha uma linda filha; também relatava histórias tristes baseada em fatos reais e outras alegres. E assim fui aprendendo a narrar.
Mas a melhor parte era quando pegava aqueles livros que ficavam na estante. Eu ainda não tinha sido alfabetizada, mas certamente já sabia ler. Todos ficavam admirandos com minhas leituras. Nos livros não existiam muitas figuras, e as que existiam não eram muito coloridas, às vezes, eram de uma única cor, mas, mesmo assim, meu pequeno dedo ia percorrendo aquelas letras indecifráveis e as histórias iam nascendo: narrativa, personagens, espaço, enredo... Tudo tão bem articulado que até parecia estar verdadeiramente escrito ali. Li muitos livros, assim, nesse imaginar... Com isso fortaleci minha capacidade criativa.
Quando fui para a escola foi muito estranho, eu tive que desaprender a ler, pois a professora vivia me dizendo que eu não estava lendo, que aquilo que eu narrava não estava escrito no livro. Fiquei muito triste.  Posteriormente entendi e, finalmente, aprendi ler como se deve. Depois disso, voltei a ler aqueles velhos livros da estante e para minha surpresa, as histórias eram bem diferentes daquelas que eu lia quando não tinha desaprendido e aprendido a ler.  Confesso que senti falta de algumas. Mas gostei de outras.
Há muito tempo deixei a minha infância. Não me tornei um escritor, desses que escrevem livros, mas ainda sou autor de muitas histórias. Conto aos meus netos, as minhas proezas da infância, relato o assassinato do meu caderninho de histórias que sangrou demasiadamente com a tinta vermelha de uma caneta sob meus escritos a lápis, falo de meus namoricos e o encontro mágico do amor com o avô deles, falo da infância de seus pais, e encho a alma de meus pequenos aos contar-lhes como preparava doces e quitutes. 


Nasci escritora, me tornei boa leitora, e hoje, para ser uma avó que fica guardada na memória dos netos, me sento numa cadeira, e novamente escritor, apresento muitos mundos aos meus pequenos novos leitores. Outras horas, combinamos todos os elementos da narrativa. Vamos escrevendo juntos...Creiam-me, não há nada mais bonito do que ver o sorriso de um pequeno escritor ao apresentar a avó suas criações narrativas. Minha alma se encanta como se estivesse diante de um livro encantado.
Mas existe muitos escritores que morrem na infância, e o pior, morre o escritor e o leitor juntos porque não houve e não há incentivo, e cada vez mais as novas gerações perdem a capacidade de narrar suas experiências, suas vivências e seus mundo imaginários. E infelizmente, cada vez mais as crianças-escritoras não cumprem sua sina.

Paula Ivony Laranjeira 

Texto publicado em: PALAVRA FIANDEIRA