26 de março de 2010

Contos Folclóricos Brasileiros, Marco Haurélio




"Quem não se lembra daquelas histórias que nossos avós nos contavam nas tardes de domingo? Ou até mesmo nossos pais, quando insistíamos em não dormir? Essas histórias, presentes na nossa memória, estão em Contos folclóricos brasileiros, lançamento da PAULUS. Contados de forma a recuperarem a cultura do nosso país, os contos aguçam a imaginação e levam divertimento às crianças.
O livro reúne algumas narrativas já vistas na literatura, mas retratadas de forma diferente. O conto “Maria Borralheira”, por exemplo, é similar ao de Cinderela, porém com um toque de brasilidade: a começar pelo nome da protagonista, que em vez de Cinderela, é Maria. E quem não se lembra de “A Bela e a Fera”? No conto “Belisfronte”, os leitores irão identificar diversos elementos que remetem a esse clássico.

São mais de 30 contos acompanhados de uma mistura de figuras curiosas e tons marcantes; outras são mais simples, sombreadas, recursos que tornam a leitura ainda mais agradável e instigam a curiosidade das crianças. Além disso, a obra conta com notas sobre as versões, um resumo de todos os contos e um glossário, que explica algumas palavras curiosas, como “fato”, que significa “tirar as impurezas”, e “ligança”, cujo sentido se aproxima a “atenção”.

Para estabelecer contato ainda maior com o leitor, todos os contos são assinados com o nome de quem os contou. Segundo o autor, Marco Haurélio, a pesquisa para a realização da obra concretizou um sonho, pois quando criança ouvia de sua avó paterna os primeiros contos populares. Alguns inclusive fazem parte deste trabalho, confirmando que é possível a convivência da tradição com a modernidade. “Todos os contos desta antologia foram colhidos diretamente da fonte mais pura: a memória popular”, relata o autor.

Contos folclóricos brasileiros pertence à coleção Lendas e Contos e tem como objetivo preservar nossas tradições populares, que, na maioria das vezes, são raras na literatura infantojuvenil. O livro também desperta o interesse de pessoas de todas as idades. Para Marco Haurélio, a obra é para a “eternaidade”.

Marco Haurélio nasceu em Ponta da Serra, município de Riacho de Santana, sertão da Bahia. Poeta e folclorista, é uma referência no Brasil na literatura de cordel. Recentemente, lançou pela PAULUS A lenda do saci-pererê em cordel."


Disponível em: http://www.investimentosenoticias.com.br/financas-pessoais/cultura/novo-livro-da-paulus-une-cultura-popular-folclore-e-classicos-da-literatura-infantil.html


Sobre o autor:



Poeta popular, editor, folclorista, autor de vários folhetos de cordel, com destaque para Presepadas de Chicó e Astúcias de João Grilo, História da Moura Torta e Os Três Conselhos Sagrados (Ed. Luzeiro). Coordenador da Coleção Clássicos em Cordel, da editora Nova Alexandria, e autor de Contos Folclóricos Brasileiros (Paulus) e Contos de Fadas Brasileiros. Além dos livros infantis O Príncipe que Via Defeito em Tudo (Acatu, 2008), A Lenda do Saci-Pererê (Paulus), Traquinagens de João Grilo (Paulus), Lendas do Folclore Capixaba (Claridade) e do infanto-juvenil A Megera Domada em Cordel (Nova Alexandria), selecionado para o PNBE 2009. É um dos fundadores do grupo cultural Caravana do Cordel, atualmente presença marcante na cena cultural paulistana. No campo da poesia popular, além de artigos em revistas literárias, é autor de Breve História da Literatura de Cordel (Claridade, prelo).

Disponível em : http://marcohaurelio.blogspot.com/




17 de março de 2010

Tecendo equações e palavras (Entrevista)



Valmir Henrique de Araújo, natural de Paulo Afonso, é professor de Física da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Possui graduação em Licenciatura em Física pela Universidade Católica de Pernambuco (1992), mestrado em Tecnologias Energéticas Nucleares pela Universidade Federal de Pernambuco (1995) e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa: estratégia e produção do conhecimento.(2009). Ganhador de vários prêmios, já publicou quatro livros: Belua, ou A era dos pássaros suados (1996), Buscapé (1997), Doce sonho de Pontual(1997), A invenção do artista(2005), e está prestes a publicar A blusa estampada (2010). Como ele mesmo diz sua vida “tem sido a convivência entre o material e o inefável”, o que engendra em seus textos a mistura entre o ser, o mundo e sua essência. Numa conversa descontraída vamos conhecendo este, que considero um Menino Maluquinho. Além de saber um pouco mais sobre seus livros e a forma com que vem “pesponteando” a Física com a Literatura.




Pils- Quem é Valmir Henrique de Araújo?

Valmir: Uma boa pergunta. Digna de uma reverência, com diria Mika, personagem de Jostein Gaarder. A resposta mais simples é a óbvia: o entrevistado. De resto...

Pils- Durante toda minha vida sempre quis saber como nasce um escritor. Você poderia responder esta pergunta, ou melhor, desvendar este mistério?

Valmir: Essa é mais fácil do que se imagina: Não sei! Vejo num escritor, pelo menos nesse que tenta se explicar, uma crisálida mais presa à lagarta de olho nos horizontes de mariposa.

Pils - Ao ler sua biografia os desavisados levam um susto. Confesso que estranhei conhecer um físico que também é escritor literário. Como isso aconteceu em sua vida?

Valmir: Como saber... Acho que o susto é uma das boas explicações. Igual à criança que foi avisada que não deveria fazer o que acabou de fazer. Dá medo desobedecer. Mas depois de feito... O jeito é se esconder. Claro que me escondi e acho que caí num poço sem fundo. Alice teve mais sorte.

Pils - A maioria das pessoas creem a Física como um “bicho de sete cabeças” e por tal, a excluem do seu cotidiano – como se isso fosse possível. Você se utiliza da literatura para tornar essa aproximação mais palpável? Explique.

Valmir: Acho a metáfora de sete cabeças muito boa. A física, no entanto, é uma medusa que se autorreproduz. Como disse acima, a aproximação foi uma desobediência.

Pils – Pensando no que você faz, o que é mais “fácil”: ser físico ou escritor literário?

Valmir: Eu não sei como ser um ou outro. Acho que me visto de coragem e tento superar minha timidez. E o arremedo de um e outro, às vezes, se manifesta.

Pils - O que da física foi para a ficção e o que não coube na ficção?

Valmir: Tudo na física cabe na ficção. A física é ela própria uma ficção, só que muito de seus construtores iludem-se ao defendê-la como uma verdade absoluta.

Pils - Quantos livros você já publicou? Fale-nos um pouco sobre eles.

Valmir: Sozinho acho que são cinco com A Blusa Estampada. E seis caso A Narrativa Poética da Ciência seja um dos selecionados no concurso de ensaios científicos da UESB. Mas tenho mais uns três ou quatro trabalhos publicados em coletânea. E tem aqueles: Buscapé; Belua, ou A Era dos Pássaros Suados; Doce Sonho de Pontual (e A Invenção do artista). Acho que errei nas contas. Disse que tinha mais do que tem.

Buscapé é a história de um menino que acompanha alguns animais numa caminhada. No caminho vão ficando alguns animais. Quase ao término da caminhada resta ele, o menino e um pássaro cinzento que não parou a caminhada, mas não sabe se deve continuar. Buscapé sugere que a ave cinzenta atravesse o arco-íris, pois o lugar dela pode não estar no fim da estrada. E quando a ave atravessa, ela se encontra. E ganhamos o Pavão. O menino continua a caminhada, pois o que ele procura não tem fim.

Belua conta a história de um trabalhador que faz algumas mágicas. Pelo menos pensam que é isso. Um dia ao receber o salário gasta com os colegas e desconhecidos em um boteco. Mas gasta muito pouco. Um litro de cachaça que se multiplica sem ninguém entender. Antes de ir ao boteco ele compra cavalinhas e pães. Ele mora num barraco no alto de um morro. Antes de entrar e ser recebido pela esposa grávida e desdentada e mais dez filho, ele fala com a Lua. Da farra no boteco sobram dois pães e dois peixes. Chove muito durante a noite e ao amanhecer muitas casas cairam, inclusive o barraco. Todos estão mortos sobre os escombros. A defesa civil e o corpo de bombeiros ficam intrigados porque, apesar dos corpos enlameados, eles estão em volta a um monte de pães quentes e muitos peixes fresquinhos.

Pils - Há uma relação temática entre seus livros?

Valmir: Juro que não sei. Meu filho, quando criança ainda, descobriu que havia sempre pássaros entre os textos. Ou seja, sou um voador.

Pils - Depois de ter publicado quatro livros, você está satisfeito com a receptividade de sua obra? Ou isso, aliado à crítica literária é algo que o incomoda?

Valmir: Sou um escritor de quintal, mas que nem os animais leem. Nem as árvores. Não tenho problema de crítica. Praticamente sou o meu único leitor. O que já é uma grande vantagem, pois às vezes gosto do que escrevo.

Pils- Em entrevista concedida por Aleilton Fonseca em 2008, ele diz que “Nosso estado ainda não assimilou a literatura e o escritor como elementos da cultura e da economia que valem a pena como investimento simbólico e econômico”. E em sua visão a Bahia, em relação à publicação e divulgação de autores novos, o faz de forma satisfatória? Comente.

Valmir: Nossa! Primeiro, o descompasso das personalidades. Ninguém deve ser colocado ao lado de Aleiton. Então, sinto-me como a persongem do filme Muito Além do Jardim, que nunca saiu de casa. E ao sair de casa - depois que as pessoas que o criaram morreram e ele nem sabe o que isso significa – ao descer da calçada é atropelado. Esse acidente o faz ser candidato a presidente por ser parecido com o candidato real. Deixam que a farsa se perpetue porque o sósia responde aos repórteres sobre política e sobre o mundo, sem o saber, pois ele só se refere ao jardim da casa, o único mundo que ele conhece. E no meu caso, responder algo, logo após um comentário técnico do escritor Aleilton, me deixa num estado tempestuosamente de aleiltoriedade.

Bem, então vou dizer o seguinte. A Bahia tem pérolas literárias como todo estado. Aqui nós, temos, grosso modo, Jorge Amado, João Ulbado, Aleiton e a figura que tenho mais conhecimento de sua obra que é o Antônio Torres. Jovens escritores e muito bons tem nos quintais. Mas a Bahia me parece que está mais para a sedução dos ouvidos e dos quadris. Mas as letras encantadas têm seu próprio ritmo e sobrevive com sua própria vida, mesmo que modesta.

Pils - Sobre o livro “A invenção do Artista”, editado e publicado pela Edições Uesb , obra ganhadora do 5º Concurso de Obras Artístico-Literárias da Uesb – Prêmio Zélia Saldanha: nele você faz uma mistura interessante do real com a ficção. Gostaria de saber mais sobre ele. O que há nele além da arte literária?

Valmir: Além da arte... Irresponsabilidade. Se eu fosse uma pessoa com o mínimo de responsabilidade não teria escrito ele. Primeiro, que o conto Ócio Dourado eu não sabia que era meu. Custei a reconhecê-lo e só acreditei que havia escrito porque estava manuscrito. E aí retrabalhei para o concurso. Eu faço uma apologia à preguiça e a elevo ao status da criatividade. Esta que impregna um trabalhador que é demitido por criar um parafuso hiperbólico, que por sinal, não tem utilidade, a menos de tirá-lo da rotina da indústria. Os irmãos é uma lindeza de texto. Acho um encanto. Tive a sorte de escrever sobre um problema crônico da humanidade: a relação entre Israel e a Palestina. Um conto de conexão é fruto das reflexões sobre como a gente é levado a aprender física: meramente decorando fórmulas. Esse conto eu fiz durante um curso de aperfeiçoamento de matemática, num convênio entre a UESB e a UFBA. Deixe-me ver outro... Ah! O gato Descartes, foi depois de ler O caso dos exploradores de caverna, de Lon Fuller. Eu cursava Direito nessa época. Entre 2000 e 2002. O conto não tem nada do livro, mas foi inspirado nele. Nesse conto, um gato que domina dois quintais fica em dúvida para qual deve pular e efetuar sua primeira posse. Um quintal tinha um tanque de peixes, o outro um imenso viveiro. Ele optou por esse último. E ao invés de comer os pássaros foi convertido por uma passarinha que era a própria Cecília Meirelles.

Pils - Em “Prototexto, uma narrativa poética da ciência: estratégia de construção de conhecimento no ensino de física”, você diz que “a narrativa poética da ciência é uma descrição apaixonada porque os interesses vão além de medir a quantidade de energia que podemos aproveitar da Terra , mas volta-se para o reencantamento da natureza como parte da história do autor em conhecer o universo, o mundo e a si mesmo, este um aprendiz de ciência que ao escrever sua história de aprendiz se reconhece como acontecimento nas contradições e evoluções do cosmos, inserido na própria história do universo”. Gostaria de ouvir um pouco mais sobre essa ligação da ciência-homem-literatura.

Valmir: Como é que você sabe tudo isso desse texto?

Pils- Você ainda não respondeu a pergunta.

Valmir: É que eu queria falar tanto sobre esse trabalho... Por isso silencio. Acho que o silêncio tem uma magia que a gente ainda não aprendeu a valorizar. E parte do silêncio acho que descobri nesse trabalho. Essa parte é o que denomino um dos operadores do prototexto. O prototexto tem, pelo menos, quatro operações para narrar os acontecimentos do universo vivenciados pelo aprendiz de ciências: a linguagem poética, a estratégia de construção do conhecimento, o incabamento das argumentações, e a inclusão do aprendiz de ciência como sujeito implicado na construção do conhecimento. Claro que parece não caber falar de silêncio. Mas o silêncio é um ruído promotor de criação. Por isso ele é um princípio que se aloja em todos os operadores. Sim! Quanto à ligação entre ciência, homem e literatura, eu os coloco em um mesmo universo porque os respiro assim. Mas isso não é natural. É uma desobediência que valeu o desrespeito de meus colegas de trabalho e até o virar as costas como resposta. Para os professores de física, de um modo geral, fazer física, estudar física ou saber física é regurgitar equações e entupí-las de números para que elas expilam apenas os resultados que elas podem dar. Acho uma parte importante no aprendizado. Mas a quantificação não é suficiente para tratar do conhecimento. O conhecimento não é somente medida; é poesia, quando esta é habitar o que se faz. Ninguém conhece só porque mediu, antes ele habita o que pretende mensurar. Por isso que a mensuração tem sentido. E é o sentido que não existe nas coisas, que damos quando as habitamos. Como se falar em amar alguém quando ela não é nossa habitação. E por mais razão a ciência, posto que é um amor coletivo. Por isso eu propus o exercício das equações com as palavras sendo linhas e agulhas e nós esses tecedores que, incompletos, realizamos pequenas obras inconclusas que se perpetuam em seu eterno fazer por serem inacabadas e estarem com pessoas e processos inacabados. Quem disse que um beijo tem fim. Nem uma teoria tem. Ambos têm ganchos. Por isso, acho eu, que o beijo não existe no vento, mas entre lábios impacientes de espera. E as teorias, que são etimologicamente teatro, modos de ver e não uma verdade. E se é teatro, se é um modo de ver, precisam de outros olhos...

Pils - Em que o trecho supracitado se relaciona com Valmir? Seria você esse aprendiz que se vale da ciência e da literatura para conhecer-se a si mesmo?

Valmir: Logo no início de minha tese eu justifico a opção de escrevê-la em primeira pessoa. Esse é um dos pontos fundamentais da tese, o sujeito implicado no conhecimento em desobediência ao princípio da objetividade, mesmo valorizando tal princípio.

Pils- Ainda assim, gostaria que você pudesse esclarecer aos leitores do Pesponteando, que não conhecem sua tese. È possível?

Valmir: Bem... Já falei um pouco. Vou tentar resumir uma concepção que tem como princípio ser infinita, já que o inacabamento é uma de suas operações.

Vejam só! Aprendemos física por meio exclusivo de exercícios matemáticos. Pouco sabemos de física, mas sabemos aprisionar os conceitos em álgebra. A Narrativa Poética da Ciência, em seu princípio mais abrangente, o prototexto, é uma estratégia de construção de conhecimento e religação de saberes. Essa construção se dá enquanto a gente estuda um tema da física. Vai pesquisando, discutindo e criando um texto sobre esse aprendizado. A forma do texto a gente escolhe ou o texto nos escolhe: carta, conto, poesia (que acho dificílimo), crônica e até romance.

Pils - O que podemos esperar em 2010 de Valmir H. de Araújo? Há novidades no forno?

Valmir: No forno... Bem... A Terra taí nos surpreendendo com a sua ebulição. Nós que somos filhos dela, temos nosso foguinho. Algumas fagulhas às vezes ganham o ar. Claro que eu gostaria de ter as melhores respostas para lhe dar. Mas não sou assim, tão respondão. Fico por aqui com uma resposta que dei a um aluno que queria porque queria que eu respondesse conclusivamente a uma questão. Claro que ele não ficou contente, pois não foi uma resposta física, científica como ele achava que merecia. Mas o nome que dei à resposta tem muito a ver comigo e com você. É assim:

SEDE

Não tenho resposta pra tudo

Não tenho, nada

A Terra nada

e o Universo tai sem saber

Saber pode ser quase tudo

É

Saber pode ser quase

No entanto

O amor não sabe

E abarca o mundo

Só por ser sede

Sede, sede, sede

De viver

Pils- Anteriormente você citou dois livros que serão lançados em 2010. Além destes, podemos contar com outros?

Valmir: Acho que sim. Pelos menos notícias de que estão sendo acarinhados. Por exemplo:

1) Galileu, A Razão Apaixonada;

2) O Reino Roído;

3) O Jardim Antônimo;

4) O Mosaico da Quinta;

5) O Tecido das Brumas.

Vou precisar de silêncio. E de muito silêncio. Se vou conseguir... Mas pelo menos há muito fogo, se não em mim. Peço de empréstimo a vocês. Afinal, escrever é um amor coletivo. O avô em A Blusa Estampada disse isso muito bem. Acho que foi mais ou menos assim “Nessa vida, tudo que fazemos é com ou para alguém”.



9 de março de 2010


Tenho borboletas em mim


Tenho uma tristeza borboleteando em mim.

Há tempos em que metamorfoseia-se,

Dando-me ares de contentamento.

Tal alacridade é pura e simples pintura,

É traje de penitência oculto entre serpentinas carnavalescas.

Entre faces e disfarces sou Pessoa,

Cheio de tantos “eles”

Que causaria, a outros, cobiça,

Não a mim

Cheia de tantos “eus”.

...

Ando em tempos por bailes venezianos,

Por “curvaturas circulares serpenteantes”

Entre olhos e cones:

Num instante estou,

No outro, não.

Nesse palco, às vezes, clarificado

Sou uma personagem cledsoniana

Narrada a um certo cientista

Tão insano quanto eu.

Sou o ser que não é, sendo o que é

Milagre, miragem, ilusão de óptica.

...

Queria o não tido

Sem ter tido

Sentir

Sentido

A máscara caída...

A maquiagem enodoada...

A personagem concreta...

A profundidade que abarca o objeto

Quando os dois olhos vêem...

...

Neste limiar noturno

Sem asas cintilantes,

Nem asas

Tento desesperadamente sair do casulo

-Paula Ivony Laranjeira (em Fevereiro de 2010)-