25 de agosto de 2009

A invenção do artista


"Recomendo a leitura de A invenção do artista do amigo Valmir" Clédson Miranda (Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP, e professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB)



Caríssimo Valmir Henrique de Araújo, Recebi das mão do amigo Clédson Miranda o livro A invenção do artista, e resolvi mandar meu comentário via blog, imagino que chegará até você... Agradeço a “pieguice”, como você chamou, na dedicatória do livro. O que você chama de pieguice, chamo de exclusividade. Sei que em nenhum outro, por você assinado, constará o gracioso trocadilho... Fiquei lisonjeada!


Começo fazendo algo comum em suas crônicas: perguntas.

Você é algum mago, bruxo, ou coisa assim? É cozinheiro? Alquimista?

Quero algo que me explique o fascínio que exerceu sobre mim o teu livro A invenção do Artista. Com esse seu jeito de menino curioso, tagarela, e extremamente meigo e sedutor, tomou-me para ti como se fosse um dos meus sobrinhos: exigiu atenção exclusiva, tive que ser sua, ouvir suas histórias, responder suas perguntas, me empolgar com suas respostas... Sentir teus sabores.

Falando em sabores, como conseguiu colocar gosto nas palavras? E nas histórias?

Isso é bruxaria pura... Ou é mágica...

Senti gosto de menino perguntador; gosto de O pequeno príncipe; gosto de Luiz Fernando Veríssimo; gosto de “lorota”; mas também, gosto de criança malvada que mata passarinho, lagartixa; gosto de anjinho sem vida, sem futuro; gosto de sonho, de saudade e de faculdade... Gosto de Meu pé de laranja lima.

Outra coisa, você é um menino muito “perguntador”, quer saber tanta coisa. Coisa que não sei. Coisa que ainda não pensei. Outras coisas imagino, mas não sei se é certo. E se eu tiver resposta para todas as tuas perguntas, o que acontecerá? Ganho um chocolate, um tiro ou uma camisa de força? Às vezes é bom saber, às vezes dá medo...

Não me leve a mal, mas sempre achei que física era coisa de doido. E sempre achei que literatura era coisa de gente “sabida”. Mas você misturou tudo, virou café com leite, não dá para separar. Será que lendo seu livro vou virar uma sabida doida, ou uma doida sabida? (risos)

Calma aí, a escrita menino virou, num passe de mágica, reflexão, contestação, ciência e consciência, é um autor homem-maduro que agora, se pôs a escrever na mão do menino perguntador.

Que tinta é essa que usa para escrever nas páginas do teu livro?

Olha o cheiro que sai das folhas: cheiro de livro aberto, cheiro de pensamento na cabeça, de ideia virando coisa, cheiro de lâmpada sendo ligada. Como conseguiu esses odores? Será que não foi coisa do gato?

Não gosto de gato, eles me olham estranho, ainda mais gato que fala. Às vezes, finjo para meus sobrinhos que gatos falam, e faço a voz do gato. O gato de botas... Agora vou pensar no seu gato Descartes. Um momento! Tire-me uma dúvida: penso por que existo, ou existo por que penso? Eis a velha indagação...

Mas indagar é necessário, como necessário é respirar.

Com sua escrita voltada para as inquietações filosóficas e cientificas, parei vários momentos a leitura para pensar sobre a lógica das coisas e parafusos, das pessoas, do mundo...

Neste momento, estou na calçada de uma casa, numa cidadezinha desconhecida, que devido a um pequeno riacho, brotou no sertão baiano. O vento sopra meus cabelos desalinhando todo o penteado milimetricamente planejado, os pardais sentados no fio de alta tensão cantam, pessoas passam conversando, me olhando com sua costumeira curiosidade, o que ela tanto ler? O que escreve?

Estou pensando... Pensando nessa alquimia perfeita do universo, onde estranhamente supomos ser únicos. Pensando e repensando-me enquanto ser, sujeito agente e paciente nesse hibrido social, motivada pelo A invenção do Artista de Valmir Henrique de Araújo. Esse foi o fruto da primeira impressão, de uma leitura cheia de prazer, sem muito pensar, sem analises, sem teorias e teóricos, aqui consta a visão da menina (risos) que corre empolgada para descobri o que se esconde por entre vocábulos e frases. O fruto de quem ambiciona um dia ser estudiosa literária, com todo o conhecimento necessário, as teorias e teóricos para subsidiar o dito, bem como a visão da águia para bisbilhotar as entrelinhas, poderá ser mais lento.


TAMBÉM RECOMENDO A LEITURA!!

Paula Ivony Laranjeira


Para contatos com o autor, compra do livro, ou para conhecer as outras obras de Valmir Henrique de Araújo entre em contato pelo e-mail: valmirboaideia@yahoo.com.br


Valmir Henrique de Araújo possui graduação em Licenciatura em Física pela Universidade Católica de Pernambuco (1992), mestrado em Tecnologias Energéticas Nucleares pela Universidade Federal de Pernambuco (1995) e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa: estratégia e produção do conhecimento.(2009). Atualmente é professor Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Ganhador de vários prêmios.

Livros publicados: A ERA DOS PASSAROS SUADOS (1996), BUSCAPÉ (1997), DOCE SONHO PONTUAL (1997) e A INVENÇÃO DO ARTISTA (2005).


17 de agosto de 2009

Fuçando o passado, encontrei o texto abaixo






O conhecimento e a informação são requisitos desejados por muitos, porém saber um pouco mais, costuma nos afastar das coisas simples, nos impede de ter esperança, de acreditar nas pessoas etc, fato que se percebe no filme “ Narradores de Javé”, e em especial, na personagem Antonio de Biá, que em determinada cena demonstra ao telespectador seu descaso frente a calamitosa situação da sua cidade. Biá não acreditava que as narrativas simplórias de sua gente fossem capazes de impedir a ganância e o progresso.

Nas últimas cenas do filme, no momento em que os moradores da cidade viram as costas para Biá, é possivel perceber, que este tenta, por sua vez, conscientizá-los da inutilidade de tal ato, já que ninguém vai parar a construção de uma barragem por causa de meia dúzia de pessoas que nem se quer sabem escrever. Segundo ele, as narrativas “ é melhor que fiquem na boca das pessoas, porque ninguém poderá contá-las bem no papel”. Os moradores, com isso, viram as costas para o progresso/futuro/Biá. No entanto, por um momento, Biá olha para o passado, e é tocado pelo sentimento de culpa, que logo passa, em seguida ele caminha na direção do futuro deixando atrás de si ruínas, catástrofes do passado, fragmentos de muitas vidas analfabetas, na maioria das vezes escondidas em lugares desconhecidas.

Destarte, é para este passado ignorante que Biá volta seu olhar, sem conseguir desviar-se já que o mesmo faz parte dele também, apesar das “ informações” que adquiriu, lhes dizerem o contrario. Nessa linha de pesnamento, é possível associar o gesto de Biá à mesma cena no quadro de Klee, “Ângelus Novus”, o qual Benjamin descreve tão bem:


“(...) um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente (...) seu rosto está dirigido para o passado. Onde nos vemos uma cadeia de acontecimentos, ele deu uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruínas sobre ruínas e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso”.


Biá foi se distanciando do seu povo, como nós nos distanciamos das narrativas, da nossa história, das nossas raízes. Ao analisar o filme, o texto e a pintura, entendemos o que Benjamin quis dizer ao falar sobre a narrativa em Leskov: “ descrever um Leskov como narrador não significa trazê-lo mais perto de nós, e sim, pelo contrário, aumentar a distância que nos separa dele”. No entanto, Walter Benjamin, felizmente se equivocou quando previu a morte da narrativa para os nossos tempos, já que ainda há escritores empenhados em narrar, deixando transparecer no papel um misto de conselhos e relatos cheios de experiências, sabiamente incrustados como, por exemplo, no livro O Desterro dos mortos, de Aleilton Fonseca, autor baiano que escreve seus contos possibilitando ao leitor a sensação de estar ouvindo histórias em vez de lendo.

Entretanto o mesmo não acontece no cotidiano das pessoas, que sempre apressadas vão se esquecendo de contar suas experiências, aí sim percebemos o quanto a arte de narrar se distancia de nós. Talvez por isso, caminhamos para o futuro com os olhos no passado.


Por: Paula Ivony Laranjeira

12 de agosto de 2009

ñ fuja é regra!




"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem" (João Guimarães Rosa)


"Mas quantas vezes coragem temos e dela nos afastamos
deixando o sonho escorrer por entre os dedos
vivendo sem viver
se a vida esquenta e esfria
construa um casebre com lareira na beira do rio
para que possas esquentar-se e refrescar-se
a depender do clima que te projeta o viver
no aperta e afrouxa o aprendizado do alívio
mas qual vantagem teria viver sempre folgado
se o outro lado desconhecer
e saber-se constante
imutável
qual o sentido do viver
quão doce é contemplar o sono da criança
sua calmaria tranquila
que tranquiliza e sossega
para no instante vindouro
seu excesso de vida fazê-la desinquieta
se o contrário fosse estaria desfigurada a criança
como estaria desfigurado o viver"
Paula Ivony Laranjeira


"O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando." (João Guimarães Rosa)


"Somos uma eterna metamorfose
disforme
biforme
que enforma e desenforma
a depender da forma
nesse exato instante
fujo da regra
do ponto
do encontro
e faço do desencontro
minha vida
meu constante aprendizado
no risco
no rabisco
do bicho esquisito
que sai da forma."
Paula Ivony Laranjeira